17/08/2010

Terra é alternativa ao betão armado

Artigo publicado no Jornal de Angola em Agosto de 2009

por: Leonel Kassana | no Curoca - 01 de Agosto, 2009

"Peritos que lidam com questões ambientais, arquitectos, engenheiros, autoridades tradicionais e entidades de várias instituições começaram, esta semana, a discutir, num seminário, na localidade de Njambasana, município do Tômbwa, as melhores formas de divulgação da construção com terra.
Ainda de acordo com os especialistas, esta é uma das técnicas mais antigas embora tenha o estigma de ser associada às construções das comunidades pobres.
O seminário é uma promoção do Centro de Estudos do Deserto, (CEDO) e pretende levar os especialistas a compartilhar as suas experiências e debater as formas de divulgação desta tecnologia para complementar os esforços do Governo na construção de um milhão de fogos habitacionais até 2012.
Características do material
Um documento do Centro de Estudos do Deserto explica que « uma relação estreita entre os conhecimentos adquiridos ao longo de uma experiência milenar, com o uso deste material, e o recurso às novas tecnologias têm demonstrado uma abordagem sábia».
O mesmo documento acrescenta que várias experiências têm sido realizadas em diversos países, demonstrando a viabilidade do uso da terra como material de construção, não havendo ainda conclusões e certezas da sua aplicação universal, uma vez que se atravessa uma fase de grande experimentação».
Em Njambasana, uma área particularmente árida, em pleno deserto do Namibe, os temas levados ao seminário do Centro de Estudos do Deserto foram considerados sugestivos pelos participantes. Estiveram em abordagem os seguintes pontos: «A universalidade da arquitectura da terra», «Análise da realidade local: problemas e potencialidades», «A construção em terra e o habitat sustentável», «a arquitectura da terra e a legislação: o papel das Obras Públicas», «o controlo e qualidade da construção com terra» e o «o ensino da arquitectura de terra».
Paralelamente ao seminário, membros da comunidade local estão a frequentar um seminário, também promovido pelo Centro de Estudos do Deserto, para despertar nela o interesse que esta tecnologia – arquitectura em terra – tem na melhoria das condições das suas habitações.

População entusiasmada
Os aldeões de Njambasana começaram a fazer blocos de areia com recurso a uma técnica simples que combina areia, argila, capim e água.
Os peritos do Centro de Estudos do Deserto consideram que estas são matérias-primas abundantes e disponíveis em praticamente todas as zonas onde existe a presença humana. Além de que o sistema utilizado para as construções em terra é económico, tem baixos custos de transporte, é pouco exigente em relação a mão-de-obra especializada e permite a sua execução a curto prazo.
“O material sé ecológico, pois utilizam recursos abundantes na natureza e não carecem de processos de transformação da matéria-prima que consomem meios energéticos dispendiosos”, afirma o documento do Centro de Njambasana.

Casas tradicionais
O Centro de Estudos do Deserto diz que «esta acção não persegue a substituição da habitação tradicional das populações pastoris, que está de acordo com a ecologia, condições económicas e sociais e das suas culturas, mas pretende promover uma melhor qualidade de vida, no que respeita à habitação, nas aldeias e periferias urbanas».
O Centro de Estudos do Deserto informa ainda que o material utilizado é reciclável, reutilizável e não é tóxico. Estão salvaguardados os estudos sobre os custos do impacto ambiental neste sector da construção. «Optámos pela sua divulgação e estudo como premissa do desenvolvimento».
Njambasana, no Curoca, que é terra mítica e com muitas histórias, com as novas técnicas vai melhorar as suas habitações. Para já, terra, que é a matéria-prima, não falta!"

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