18/08/2010

Humanidade passa a "viver a crédito" a partir de sexta - Ciência - DN


Humanidade passa a "viver a crédito" a partir de sexta - Ciência - DN

por Lusa, 16 de Agosto de 2010

"Os habitantes da terra esgotarão a 21 de Agosto os recursos naturais que o planeta lhes proporciona anualmente, pelo que a partir daquela data já passarão a consumir e a viver dos créditos respeitantes ao próximo ano.

O alerta foi deixado hoje pela organização não-governamental Global Footprint Network (GFN), que anualmente calcula o dia em que o consumo da humanidade esgota os recursos naturais que o planeta é capaz de fornecer cada ano.
O limite em 2010 ou "Dia do Excesso" ("Earth Overshoot Day", em inglês) será atingido no sábado 21 de Agosto, refere a organização que trabalha para promover a sustentabilidade através do uso do conceito de Pegada Ecológica, uma ferramenta de contabilidade dos recursos naturais.
"Isso significa que demoramos menos de nove meses para esgotar o nosso orçamento ecológico para este ano", salientou o presidente da Global Footprint Network, Mathis Wackernagel.
Em 2009, o limite dos recursos naturais foi alcançado em 25 de Setembro, mas, segundo o responsável do GFN, o desempenho deste ano não significa que o consumo em 2010 tenha aumentado.
"Este ano analisamos todos os nossos dados e percebemos que, até agora, tínhamos sobreavaliado a produtividade das florestas e das pastagens: em outras palavras, exageramos a capacidade que a Terra" tem para regenerar e absorver o nosso excesso.
A Global Footprint Network também calculou os serviços e recursos que são fornecidos pela natureza e comparou-os ao consumo do seres humanos e as emissões poluentes que estes emitem.
"Na década de 1980, a nossa Pegada Ecológica era mais ou menos equivalente à dimensão da terra. Actualmente é 50% superior", alertou.
"Se você gastar o seu orçamento anual em nove meses provavelmente ficaria muito preocupado com a situação: a situação não é menos grave quando falamos das nossas reservas naturais", sustentou Mathis Wackernagel.
De acordo com o responsável da GFN, as alterações climáticas, a perda de biodiversidade, a desflorestação, a escassez de água e de alimentos "são todos sinais de que não podemos continuar a consumir [este tipo de recursos] à crédito".
Apesar de "dados preliminares" mostrarem que a crise económica e financeira mundial -- que se intensificou em 2008 -- teve um "impacto significativo no consumo", esses dados ainda não são claros, adiantou o responsável.
A título de exemplo, Wackernagel referiu o "consumo de energia que tem vindo a diminuir na Europa e nos EUA, mas não na China".
Para inverter esta tendência, sustenta, é preciso que "a população mundial comece a declinar", uma necessidade que já está a ser percebida entre os demógrafos e ambientalistas, também no seio das Nações Unidas.
"As pessoas pensam que isso seria terrível para a humanidade, que [o aumento da população] é de facto uma vantagem económica. Mas é uma escolha", afirmou Mathis Wackernagel."

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