28/01/2009

Forno de terra moldada/empilhada

Fonte: Weisman, A., Bryce, K. (2006). Building with Cob: a step-by-step guide. p. 191. Green Books Ltd: Devon
Quem teve a sorte de passar a infância a sentir o cheirinho do pão fresco a sair do forno sabe bem a influência que um objecto desta natureza tem nas nossas memórias.

A sugestão que vos trago hoje é na verdade mais uma das aplicações que o material terra pode proporcionar: um forno de terra.

O processo é simples, ou assim se diz. Apesar de fazer parte dos meus planos, nunca construí um forno de terra. Aqui fica então mais uma das minhas investigações.

Antes de iniciar a construção do forno convém pensar no local onde vai ser implantado e ter algumas questões, que influenciarão o funcionamento do forno, em consideração. Alguns exemplos são: não estar demasiado exposto aos ventos dominantes, distância de materiais inflamáveis, protecção dos elementos atmosféricos, entre outros.

Segundo o livro Building with Cob: a step-by-step guide (2006), o forno propriamente dito é feito com três camadas de diferente constituição: uma mistura sem palha (que vai estar em contacto com o calor) e uma mistura normal com palha a servir de "enchimento" e um acabamento respirável de preferência de reboco de terra.
O forno é esculpido em torno de areia moldada em forma de cúpula que é depois retirada, já depois do Cob ter adquirido consistência suficiente para se manter intacto.
No exemplo desta imagem a fundação é feita com recurso a pedras com vários tamanhos. Utilizam-se ainda tijolos cozidos, cuidadosamente colocados, na base do forno. Será essa a superfície a receber as delícias que vão assar no forno.
Este site descreve todo o processo com fotografias. Merece uma vista de olhos, definitivamente!

25/01/2009

"The future of Mud: a tale of houses and lives in Djenné"



Aqui está um documentário que me parece ser fascinante. Tenho procurado um website onde esteja à venda mas sem sucesso. Será que alguém me pode ajudar?

Deixo em baixo a descrição do filme e o link para o Trailer.

VEJA AQUI O TRAILER:
http://www.susan-vogel.com/movies/FM.html

"In the Future of Mud: A Tale of Houses and Lives in Djenné, a documentary on the rich heritage of earth architecture in one town in Mali, Africa, one gets a true sense of love of craft combined with a love for the creative and integrative possibilities of earth.
Directed by Susan Vogel, the film follows the life of a real mason in the town of Djenné (Mali, Africa) named Komusa Tenapo. Using research culled from Canadian anthropologist Trevor Marchand, the film has an interesting approach to demonstrate the everyday realities and overarching socio-cultural issues of earth building in this historical African town, using real-life and fictitious characters, re-enactments, interviews and live footage to present a very believable, instructive and compelling narrative about traditional building practices and how it intertwines a rich, underlying dimension to Djenné’s social and urban fabric.
The film also presents an alternative perspective to the future of earth architecture in a world where architecture is increasingly mechanized and where on the other hand, it is also estimated that half of the global population lives and works in an earth building. This film skillfully demonstrates that more so than “regular” buildings, earth buildings can occupy a special place rooted in humanity’s cultural consciousness and encourage a more intimate relationship between the builder and the built, a community and the Earth – as the material transformed from formlessness to form. This collective connection to earthen architecture is best seen in the film’s footage of the annual re-plastering of the town’s pride, the Great Mosque, which is the world’s largest earth building, in addition to being a distinguished UNESCO World Heritage site. The first earthen structure here on this site dates back to the 13th century and is re-plastered every year. The day-long, annual festival is truly a communal affair, with plenty of foreign tourists gawking on and filming the orderly chaos. Thanks to Mali’s efforts to preserve this valuable tradition, Mali is one of the centres of earthen architectural heritage, with next year’s 10th annual Terra Conference taking place there. If Mali is as out of your means as it is out of mine, then check out The Future of Mud to get a taste of real, down-to-earth architecture.
Credits: Produced by Susan Vogel, Samuel Sidibé, Trevor Marchand & the Musée National du MaliYear: 2007"

Fonte:

23/01/2009

A simplicidade do saco de terra

Sou tantas vezes questionada sobre a técnica de construção com sacos de terra, também conhecida como super-adobe, que não resisti a dedicar-lhe mais um post.

A utilização de sacos de terra como forma de criar uma estrutura resistente não é uma novidade, já que é prática comum para montar barreira por exemplo a cheias.
Aplicada à arquitectura, terá uma origem mais contemporânea. O seu fundador, o visionário Nader Kahili iniciou esta prática como forma de edificar a baixo-custo e também procurando uma solução possível para a problemática da degradação ambiental.
Começou por aplicar princípios ancestrais largamente demonstrados como eficientes - cúpulas e arcos – adaptando-os a esta nova “tecnologia”.
Apesar de ser habitual a utilização da cúpula, o material permite erguer paredes lineares adaptando-se com facilidade a vários desenhos.


Fig 1 - exemplos de sacos - Fonte: (Humper e Kiffmeyer, 2004)


É uma técnica que prima sobretudo pela simplicidade. Basicamente, sacos são cheios com uma mistura de terra previamente humedecida, após cada camada a terra nos sacos é batida e compactada com recurso a ferramentas simples. Entre cada camada é colocado arame farpado que mantém as partes juntas conferindo-lhe uma boa resistência à tensão.

Fig. 2: A introduçao do arame farpado e malhas metálicas - Fonte: (Humper e Kiffmeyer, 2004)


Quanto aos vãos, é necessário que se coloquem previamente formas que podem ser retiradas após o terminus da construção das paredes.
As fundações podem ser feitas de várias formas. A título de exemplo, mistura de escombros e pedras ou a utilização de um embasamento de terra misturada com estabilizantes de cimento são soluções comuns. Outros tipos de fundações podem ser adaptadas a localização climática e função do edifício a ser erguido.


Fig. 3: Formas para vãos - Fonte: (Humper e Kiffmeyer, 2004)


- Vantagens em relação a outras técnicas de construção em terra:
Utilizam o mesmo material para erguer toda a casa, desde as paredes ao telhado. Evita-se assim, por exemplo, o uso de madeira ou outros materiais para a estrutura do telhado.
A construção com sacos de areia não requer tanta atenção como por exemplo o adobe, para o qual a mistura tem de ser a certa (idealmente) e que tem de passar por todo um processo de cura por vezes moroso. No caso da técnica aqui apresentada o molde permanente é dado pelos sacos que são cheios de terra, evitando uso de cofragens ou moldes (ao contrário da taipa e adobe), o processo de cura é feito depois de serem aplicados (poupando tempo na construção), a mistura do seu conteúdo nem sempre precisa de respeitar as quantidades aconselhadas como perfeitas ou ideais, já que os sacos compensam a má qualidade da mistura e garantem a resistência pretendida.

Para quem duvida da eficácia desta técnica face às mais diversas agressões, saiba-se que testes rigorosos foram levados a cabo nos EUA. Os resultados provaram que casas feitas com sacos de terra resistem ao fogo, inundações, furacões, térmites e tremores de terra. Obviamente que a técnica terá de ser correctamente executada e, segundo Hunter e Kiffmeyer (ano) a chave deste sucesso reside na conjunção da forma monolítica com o sistema de construção com sacos de terra.

O que é então necessário?
Testar a mistura ideal do solo com o qual se vai efectuar a construção; a mistura variará dependendo da situação e intenção; os sacos devem ser de material respirável, vários formatos são utilizados (ver fig.1), desde sacos individuais a rolos contínuos que se cortam e preparam à medida desejada; o arame farpado, que serve como “velcro” para manter os sacos unidos e conferirem à parede resistência e unidade (fig. 2). Como opção podem ainda utilizar-se outros materiais que ajudam por exemplo na aderência do reboco de terra, tal como as malhas metálicas; as formas para a abertura dos vãos e as ferramentas para a compressão dos sacos (semelhante às usadas para a taipa) (fig.3).

O processo em si é um pouco mais complicado, e como qualquer técnica exige conhecimento e prática. No entanto, a simplicidade que se lhe associa aparenta ser genuína. De aprendizagem rápida e eficiência extraordinária esta é mais uma das utilizações da terra que tem ganho aceitação nos quatro cantos do mundo, cumprindo com nota positiva os testes a que se tem proposto.

Este post foi baseado na informação do livro Earthbag building:The tools tricks and techniques (2004)dos autores Kaki Hunter e Donald Kiffmeyer da editora New Society Publishers. As imagens aqui apresentadas foram extraídas da mesma publicação.
(Consultar página da editora para mais pormenores: http://www.newsociety.com/bookid/3842)

Já como nota pessoal, não vejo a hora de por mim experimentar construir qualquer coisa com esta técnica!

21/01/2009

Andamento da tese

Hobo: data logger - Uma ferramenta fundamental para registar e guardar temperatura e humidade de um espaço

Como já referi em posts anteriores, encontro-me a desenvolver uma tese relacionada com a arquitectura de terra contemporânea portuguesa para o MSc.
Embora, para já, esteja sobretudo dedicada à investigação para assimilar totalmente a temática, iniciei ontem a análise de alguns dos registos de temperatura e humidade que trouxe dos meus case studies em Dezembro.
Ora, comecei por construir o gráfico com as temperaturas exteriores e interiores do período de tempo em que deixei o equipamento (hobo) num dos case studies. Quase por senso comum já sabemos que o comportamento dos edifícios de terra vai ser bom, isto é, de alguma forma vai proteger o interior das condições exteriores. No entanto, quando podemos ver isso acontecer na realidade com base em medições reais é fabuloso!
Posso dizer que o "objecto de estudo" em questão não tinha aquecimento a funcionar, apesar de o ocupante admitir acender por vezes a salamandra em dias mais rigorosos.
O hobo esteve a funcionar das 14:40 até às 18:00h, infelizmente não o deixei mais tempo, pois caso o tivesse feito o que se começou a registar por volta das 17 seria ainda mais notório.
A linha da temperatura exterior esteve sempre ligeiramente abaixo da temperatura interior. A partir das 17h a temp. exterior começou a desenhar um movimento descendente enquanto que a interior começou a fazer exactamente o oposto. No momento em que a temperatura exterior descia, a interior subia, o que iria garantir uma temperatura confortável no fim da tarde, sem recurso a aquecimento. É esta uma das características fantásticas da massa térmica.
Muito interessante.
Apesar da intenção de analisar o comportamento nos dias rigorosos do inverno, as expectativas estão a recair sobre os picos de calor do verão, já que a tendência será para um aumento das temperaturas no futuro. O equipamento fixo que deixei instalado nas casas vai revelar resultados interessantes, espero eu.

20/01/2009

Adobe - bloco de terra seco ao sol

Fotografias em Tamera (2006)
Foi em 2006 que deitei as mãos à obra para fazer os primeiros blocos de adobe. Sob a supervisão do arquitecto alemão Gernot Minke julgo que o grupo de trabalho conseguiu fazer umas boas centenas lá para os lados de Odemira. Tamera, Monte Cerro: uma experiência que ficará para sempre no meu coração.
Sobre esta técnica eficaz, rápida e devo dizer, bem divertida, cabe-me agora escrever umas quantas palavras (até porque preparo neste momento o "capítulo" do adobe para o site). Nada que muitos de vós não saibam já, no entanto, e para aqueles que só agora folheiam as primeiras páginas sobre a terra ou frequentam os primeiros workshops, cá vai um pequeno incentivo para que a pesquisa continue.

Alguns autores dão-nos conta de mais de 20 técnicas diferentes no que diz respeito à utilização da terra como material de construção[1]. Apesar diso, a taipa e o adobe parecem ser as mais difundidas nos dias de hoje.
A simplicidade é talvez a principal característica que define a técnica do adobe. Ao moldar, sem compactar, terra em combinação com palha, areia e por vezes outros agregados [2] , obtêm-se um bloco que depois de seco ao sol pode ser utilizado, ora para erguer paredes interiores ou exteriores como elemento estruturante, ora apenas com carácter de enchimento em conjunção com uma estrutura de outro material. O tijolo de adobe pode também ser utilizado para outras situações tais como revestimento de pavimentos, construção de abóbadas, coberturas, etc.

O processo de fabrico do adobe tem a capacidade de se adaptar às possibilidades e necessidades do fabricante e/ou construtor. O molde pode ser concebido para produzir um ou vários tijolos em simultâneo, resultando esta última opção numa maior eficiência aliada à produtividade.
A matéria-prima propriamente dita, que consiste, como foi referido, numa mistura de vários componentes onde a terra desempenha o papel fundamental, é a chave para que o resultado final seja o pretendido: um material de boa qualidade, seguro e suficientemente credível para ser utilizado na construção de um edifício.

Caso a opção seja utilizar os materiais locais, a mistura que compõe o adobe pode variar dependendo dos recursos disponíveis e da sua qualidade. A mistura perfeita para a criação de tijolos de adobe de alta qualidade tem sido estudada por especialistas, sendo que as proporções ideais (segundo alguns especialistas) rondam 55 a 75% de areia, 10 a 28% de siltes e 15 a 18% de argila [3]. A receita pode, de facto, variar, no entanto, é fundamental perceber que a alteração da quantidade de cada um dos componentes pode conduzir a diferentes comportamentos do material obtido. Demasiado barro, por exemplo, tornará o tijolo potencialmente mais fraco mas com maior capacidade de resistência à água, enquanto que uma mistura com maior quantidade de agregados originará um tijolo mais forte mas mais susceptível à erosão [2]. Assim, o segredo reside no conhecimento prévio das condições locais, conhecimento esse que aliado a experiências e testes conduzirão aos melhores resultados.
Referências

[1] - Minke, G. (2006). Building with Earth: Design and Technology of a Sustainable Architecture. Basel, Switzerland: Birkhäuser
[2] - Rael, R. (2009). Earth Architecture. New York: Princeton Architectural Press
[3] - Fernandes, M., Correia, M. (eds). (2005). Arquitectura de Terra em Portugal. Lisboa: Argumentum

15/01/2009

the roof above my head - O SITE


O projecto é antigo, ou pelo menos a vontade de concretizar qualquer coisa do género é. O blog "roof" vai ser em breve complementado com uma página na internet que cumprirá o fim de partilhar informação relacionada com a Arquitectura como parte de um todo composto pelo Homem, o Planeta e o Ambiente Edificado.
A terra enquanto material de construção terá com certeza um lugar especial, uma vez que é com esta temática que estou a desenvolver o meu percurso profissional, por assim dizer.
No entanto, e porque (como me disse há umas semanas uma pessoa entendida no assunto) "a arquitectura de terra antes de ser arquitectura de terra é Arquitectura" prefiro utilizar somente o termo Arquitectura para definir o counteúdo do futuro site, já que abarca todo um conceito onde não só cabe a terra mas também outros materiais, técnicas, etc.
O espaço estará por enquanto (e durante os próximos meses) em construção. Espero dar-lhe vida aos poucos e dedicar-lhe algum tempo pelo meio de outras tarefas que tenho agendadas até pelo menos início de 2010. Será também uma boa forma de me ajudar no percurso académico pós-universitário, uma vez que me ajudará/ obrigará a estudar e pesquisar.

Acima de tudo, é com desejo de contribuir para o panorama da arquitectura global que o www.theroofabovemyhead.com fará parte do mundo do ciberespaço.

13/01/2009

A Taipa e o Conforto Térmico

Há uns meses foi-me solicitado que fizesse um trabalho, ou como chamam aqui um paper, no âmbito da disciplina de POE (Post Occupancy Evaluation) inserida no programa do MSc. Tinha como única exigência estar relacionado ou directamente com o conceito do POE ou com um dos seus sub-temas: O Conforto Térmico.
Decidi então abordar a temática da Terra, como já tem vindo aliás a ser comum no decorrer do mestrado. A Taipa e o conforto térmico.
O objectivo foi então determinar se o material providencia ou não um conforto térmico aceitável e como esse facto influencia a sua utilização e habitabilidade dos espaços.
Pois bem, após algumas semanas de research não foi muita a surpresa ao verificar que os dados científicos disponíveis para esta temática em particular são muito escassos, o que não acontece para outros materiais. No momento em que escolhi o tema o meu professor avisou-me que seria muito complicado arranjar uma base científica para daí retirar qualquer conclusão. Não me demoveu claro está.
Foi então que pensei que esta talvez seja uma das causas para a falta de credibilidade do material (na opinião de alguns, claro, já que é mais do que credível para mim e muitos outros profissionais). Falta de números e dados reais que lhe confiram o devido lugar na "prateleira dos materiais de construção" disponíveis para escolha.
Eu sei, a primeira frase que nos vem à mente é qualquer coisa do género "A casas de taipa são confortáveis sim, toda a agente sabe". É de facto verdade, toda a gente sabe, e quem já experimentou os seus interiores pode afirmá-lo. Inúmeros são as publicações a mencionar exactamente este argumento, no entanto, há muito para desenvolver no ramo da investigação para que tenhamos acesso a mais do que apenas resultados subjectivos.
O conforto térmico é, nos dias que correm, quase uma ciência que utiliza escalas rigorosas de avaliação e cujos resultados são incorporados em estudos completos sobre desempenho ambiental de edifícios. Pessoas como Humphreys ou Nicol dão-nos a base para trabalharmos os edifícios de terra com o mesmo rigor, avaliando não só a sua performance mas também a sua aceitação pelos utilizadores.
Não é suficiente dizer que temos edifícios belos feitos com terra, temos também de afirmar que funcionam com o devido suporte cientifico! Trabalhemos então para que a investigação continue neste sentido.

12/01/2009

Momentos de Inspiração - Christopher Day


Jardim de infância no País de Gales (em cima: pormenor da cobertura, em baixo: entrada principal)


Edifício no País de Gales (fotos tiradas em Março de 2008)


Neste mundo de banalidades e repetições são poucos são os momentos que ainda nos conseguem deixar num estado de transe que nos rouba da mente todas as palavras por alguns instantes.


Felizmente, existem ainda pessoas cuja capacidade se sonhar e transmitir aos outros da forma mais positiva e inspiradora possível a sua postura perante a vida. Até ter conhecido a obra deste senhor de quem vos falarei já de seguida, tive muitas vezes a sensação de andar um pouco “perdida” e sozinha no que diz respeito à minha postura perante a arquitectura, não por falta de convicção ou empenho, mas sim por nunca ter encontrado alguém com quem partilhasse totalmente os meus ideais e princípios. Ler Christopher Day foi como ler os meus pensamentos, revi-me em cada palavra e inundei-me de felicidade por saber que muitas das coisas que sempre defendi afincadamente (e que pelas quais nunca fui levada a sério) têm afinal um fundamento científico e, melhor ainda, uma razão de ser.


Quedar-me diante das obras de Christopher Day foi, sem qualquer dúvida, sentir que o percurso que decidi seguir na arquitectura faz todo o sentido. Basta de ouvir que depois de sair da universidade é preciso que esqueçamos a poética do espaço para entrar no mundo real… Tais rudes palavras não poderiam estar de facto mais longe da verdade. Que a poética nunca deixe de guiar o nosso lápis na virgem folha de papel!


A arquitectura, segundo Day, tem um efeito de tal forma profundo na essência do ser humano, no local, na consciência e no mundo que parece totalmente fútil a preocupação com estilos e modas. Lembra-nos que qualquer coisa com tanto poder tem obviamente responsabilidades acrescidas para connosco e também para com o mundo, pois é preciso assumir que tal “arma” tanto pode ser usada de forma negativa como positiva. Será portanto nossa a tarefa de usar a arquitectura para o bem do mundo, ajudando na resolução de problemas que minam a actualidade e ameaçam o futuro.


As suas palavras são uma viagem pelo tema da arquitectura sempre profundamente enlaçado com o tema da vida humana assim como a sua relação com o planeta que nos oferece abrigo sem pedir nada em troca.


Quanto tempo não passamos nós sentados na frente de um computador, clicando milhares de vezes num objecto que, substituindo o lápis, traça linhas desprovidas de vida com o objectivo de tornar uma fachada “bonitinha”? Porque não começamos a deixar de lado o interesse em “objectos” para perceber como a nossa intervenção vai influenciar o local e as pessoas que o vão habitar?


Que materiais vamos utilizar? Que vida tiveram esses materiais? Escolher entre uma parede concebida à base de materiais sintéticos, fruto de inúmeros processos artificiais e altamente “energívoros” que nunca fará parte de um ciclo de vida completa ou uma parede de terra que já foi ela própria vida e que voltará a alimentar vida faz TODA a diferença.
Como vamos então lidar com esta responsabilidade? Que escolha fazemos para o nosso futuro enquanto profissionais?


Recomedo: Places of the Soul de Christopher Day (descrição aqui)

05/01/2009

O crescimento populacional no mundo em desenvolvimento

Não sabia bem quão difícil seria manter um blog (e só lá vão uns quantos posts). Por vezes demasiadas tarefas acabam por roubar tempo umas às outras. O “roof” por cá tem andado a desfrutar do seu espaço silencioso no mundo da informação virtual que ganha cada vez mais adeptos desta temática que me é tão profundamente querida - a "terra".

É um pensamento que hoje me prende os dedos ao teclado: o crescimento desmesurado da população mundial.

Quantas vezes não nos chegou já ao conhecimento que a população mundial aumenta todos os anos de forma quase absurda?

Os números são da Organização das Nações Unidas e dizem-nos que em 2050 vamos ser cerca de 9 mil milhões, ou como se diz por aqui pelo Norte da Europa, 9 biliões…
Meus caros, para surpresa de muitos, é aos países em desenvolvimento que cabe a maior fatia deste “bolo populacional”. Se agora lhes pertence cerca de 81%, as previsões indicam que os números não se vão ficar por aqui e, enquanto nos países desenvolvidos se espera a estagnação ou mesmo diminuição da sua população, os países em desenvolvimento continuam a subir no gráfico da população mundial à medida que os anos passam.
A razão pela qual trago este assunto às páginas do “roof” prende-se com as zonas do mundo de tradição vernácula ligada à arquitectura de terra.

Ora, segundo o Atlas da Arquitectura Vernácula do Mundo, algumas zonas de África, O Médio-Oriente, a Ásia e a América do Sul têm como elemento comum o facto de há muito conhecerem a realidade dos benefícios da terra enquanto material de construção. São inúmeros os casos conhecidos e amplamente usados como exemplos sempre que se aborda o assunto em qualquer livro, revista ou conferência.
Ora, a minha questão é a seguinte: quais serão as consequências não só do crescimento populacional exponencial mas também das rotas migratórias das zonas rurais para as urbanas nestas zonas do globo?

Não querendo generalizar esta situação a todo o mundo em desenvolvimento, difícil é não reflectir também sobre a qualidade de vida desta recente “espécie urbana” que, alterando as suas prioridades, prefere encontrar um emprego na “grande cidade”, mesmo que isso implique viver em condições quase sub-humanas, a ter um abrigo condigno para habitar.
Teremos nós, os profissionais da construção, alguma oportunidade de intervir nesta situação capaz de originar problemas graves a vários níveis?

Fica o mote para futuras reflexões.