16/08/2009

A morte lenta das paredes de terra

Nem sempre é possível identificar imediatamente um edifício de terra. Por vezes, o conhecimento dos antecedentes históricos de determinada zonas permite-nos adivinhar a composição de paredes ocultadas por reboco e tinta. Noutros casos, onde as paredes esventradas revelam o testemunho da ausência de manutenção e/ou abandono, o material e técnicas de construção utilizadas podem ser facilmente reconhecidas. Se tal situação poderá em muito contribuir para identificar as técnicas de construção em terra utilizadas em diferentes áreas do país, infelizmente é também reveladora de descuido e desinteresse pelo património arquitectónico nacional, sobretudo no que diz respeito à arquitectura de carácter vernáculo.

O aparente desapego das tradições construtivas, que de resto em muito definem a essência do nosso povo e sua cultura, não se restringe ao uso do material terra. Tornou-se igualmente comum encontrar país fora ruínas de antigos edifícios erguidos maioritariamente em pedra.
Em qualquer dos casos, é uma visão profundamente triste assistir a esta morte lenta de paredes que tantas histórias teriam ainda para contar.

Perdoem-me portanto se as imagens que vos trago hoje são portadoras dessa tristeza. A verdade é que, infelizmente, constituem exemplos de uma realidade cada vez mais frequente em Portugal... Todas as fotografias foram captadas durante as duas semanas que passaram, aquando das minhas férias por Portugal.


Ruína perto de Fornalhas Velhas, Alentejo



Edifício abandonado perto perto de Odemira, Alentejo



Parede de taipa em ruína perto de S. Teotónio, Alentejo


Edifício abandonado em S. Tiago do Cacém, Alentejo



Ruína no Entroncamento, Ribatejo



A beleza incomparável da alvenaria de pedra no norte de Portugal. Neste caso também edifícios deixados ao abandono

1 comment:

Taipa said...

Olá Célia,concordo com tudo aquilo que referes neste post. Olho no entanto para estas imagens e vejo o tempo que estas construções já viveram e ainda vão viver, imagino as vivências e as histórias de construção e recuperação, observo os detalhes e procuro retirar ensinamentos das técnicas utilizadas e como fazer agora.
A roda não pára e sem dúvida a beleza reside nas coisas simples. Sou um optimista, olho para estas imagens e para mim constituem documentos valiosos para a arquitectura contemporânea
podendo ensinar-nos muito sobre os modos de construir e habitar casas em taipa. Temos apenas de saber mostrar aos outros o valor que nelas reside.
Estas casas dão-nos lições sobre o passado e talvez possam também dar-nos alguns conselhos para o futuro.