20/01/2009

Adobe - bloco de terra seco ao sol

Fotografias em Tamera (2006)
Foi em 2006 que deitei as mãos à obra para fazer os primeiros blocos de adobe. Sob a supervisão do arquitecto alemão Gernot Minke julgo que o grupo de trabalho conseguiu fazer umas boas centenas lá para os lados de Odemira. Tamera, Monte Cerro: uma experiência que ficará para sempre no meu coração.
Sobre esta técnica eficaz, rápida e devo dizer, bem divertida, cabe-me agora escrever umas quantas palavras (até porque preparo neste momento o "capítulo" do adobe para o site). Nada que muitos de vós não saibam já, no entanto, e para aqueles que só agora folheiam as primeiras páginas sobre a terra ou frequentam os primeiros workshops, cá vai um pequeno incentivo para que a pesquisa continue.

Alguns autores dão-nos conta de mais de 20 técnicas diferentes no que diz respeito à utilização da terra como material de construção[1]. Apesar diso, a taipa e o adobe parecem ser as mais difundidas nos dias de hoje.
A simplicidade é talvez a principal característica que define a técnica do adobe. Ao moldar, sem compactar, terra em combinação com palha, areia e por vezes outros agregados [2] , obtêm-se um bloco que depois de seco ao sol pode ser utilizado, ora para erguer paredes interiores ou exteriores como elemento estruturante, ora apenas com carácter de enchimento em conjunção com uma estrutura de outro material. O tijolo de adobe pode também ser utilizado para outras situações tais como revestimento de pavimentos, construção de abóbadas, coberturas, etc.

O processo de fabrico do adobe tem a capacidade de se adaptar às possibilidades e necessidades do fabricante e/ou construtor. O molde pode ser concebido para produzir um ou vários tijolos em simultâneo, resultando esta última opção numa maior eficiência aliada à produtividade.
A matéria-prima propriamente dita, que consiste, como foi referido, numa mistura de vários componentes onde a terra desempenha o papel fundamental, é a chave para que o resultado final seja o pretendido: um material de boa qualidade, seguro e suficientemente credível para ser utilizado na construção de um edifício.

Caso a opção seja utilizar os materiais locais, a mistura que compõe o adobe pode variar dependendo dos recursos disponíveis e da sua qualidade. A mistura perfeita para a criação de tijolos de adobe de alta qualidade tem sido estudada por especialistas, sendo que as proporções ideais (segundo alguns especialistas) rondam 55 a 75% de areia, 10 a 28% de siltes e 15 a 18% de argila [3]. A receita pode, de facto, variar, no entanto, é fundamental perceber que a alteração da quantidade de cada um dos componentes pode conduzir a diferentes comportamentos do material obtido. Demasiado barro, por exemplo, tornará o tijolo potencialmente mais fraco mas com maior capacidade de resistência à água, enquanto que uma mistura com maior quantidade de agregados originará um tijolo mais forte mas mais susceptível à erosão [2]. Assim, o segredo reside no conhecimento prévio das condições locais, conhecimento esse que aliado a experiências e testes conduzirão aos melhores resultados.
Referências

[1] - Minke, G. (2006). Building with Earth: Design and Technology of a Sustainable Architecture. Basel, Switzerland: Birkhäuser
[2] - Rael, R. (2009). Earth Architecture. New York: Princeton Architectural Press
[3] - Fernandes, M., Correia, M. (eds). (2005). Arquitectura de Terra em Portugal. Lisboa: Argumentum

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