27/01/2010

Mali


Imagens do documentário “The Lost Kingdoms of Africa”, ©BBC


Gosto de me surpreender com a beleza sublime do mundo que me rodeia. Para vos mostrar a que me refiro, hoje retorno ao Mali, por assim dizer…


Para os amantes não só das arquitecturas de terra, mas também para os que apreciam a riqueza dos saberes construtivos tradicionais, este país é de facto um verdadeiro diamante. É aqui que se alberga há milhares de anos uma admirável força de Mestres que, não só trabalham como ninguém o material terra, como também dão vida a uma esperança da continuidade da sua utilização no futuro.

Quantas vezes não referimos já o exemplo do Mali quando queremos demonstrar como é possível criar povoações inteiras recorrendo somente a recursos naturais e locais? Quantas vezes não demos já por nós a admirar a impressionante escala do grande mosteiro do Djenné como um teste, passado com distinção, às potencialidades do material terra?

Ontem vi mais um dos episódios do documentário “The Lost Kingdoms of Africa” na BBC e, como tal,não poderia deixar de partilhar uma das muitas coisas interessantes que foram referidas. A relação que os habitantes tem com os seus edifícios é impressionante, de tal forma que, por exemplo, até o agregado familiar tem influência na própria morfologia dos edifícios. Ora, se o “homem da casa” possui duas esposas então será também esse o numero de pilares esculpidos na fachada principal.

Poder-se-á pensar o que acontece então caso o núcleo familiar sofra alguma mutação decorrente por exemplo do falecimento de um dos seus membros. Nada mais simples. Ora, todos os anos após a estação das chuvas, os edifícios passam por um processo de renovação exterior que confere a oportunidade perfeita para alterar alguns aspectos escultóricos presentes sobretudo nas fachadas. A dada altura, no documentário  um dos habitantes locais refere: “Quando há um novo nascimento na nossa família ou alguém morre, nós mudamos toda a arquitectura”.

Isto ensina-me a olhar os edifícios como uma espécie de organismo vivo, cuja forma é altamente influenciada e definida não só pelo seu contexto, mas também pelos habitantes que dão vida ao espaço. Também aqui a aqui arquitectura imita os processos presentes em todo o mundo natural, metamorfoseando-se na mesma medida em que o tempo passa, crescendo, amadurecendo e, após o ultimo suspiro, retornando simplesmente à natureza, o seu local de origem.

Poética espacial ou pura e simples necessidade? Bom, um pouco dos dois talvez. Mas não será esta a fórmula perfeita para a criação da “boa arquitectura”?

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