23/01/2009

A simplicidade do saco de terra

Sou tantas vezes questionada sobre a técnica de construção com sacos de terra, também conhecida como super-adobe, que não resisti a dedicar-lhe mais um post.

A utilização de sacos de terra como forma de criar uma estrutura resistente não é uma novidade, já que é prática comum para montar barreira por exemplo a cheias.
Aplicada à arquitectura, terá uma origem mais contemporânea. O seu fundador, o visionário Nader Kahili iniciou esta prática como forma de edificar a baixo-custo e também procurando uma solução possível para a problemática da degradação ambiental.
Começou por aplicar princípios ancestrais largamente demonstrados como eficientes - cúpulas e arcos – adaptando-os a esta nova “tecnologia”.
Apesar de ser habitual a utilização da cúpula, o material permite erguer paredes lineares adaptando-se com facilidade a vários desenhos.


Fig 1 - exemplos de sacos - Fonte: (Humper e Kiffmeyer, 2004)


É uma técnica que prima sobretudo pela simplicidade. Basicamente, sacos são cheios com uma mistura de terra previamente humedecida, após cada camada a terra nos sacos é batida e compactada com recurso a ferramentas simples. Entre cada camada é colocado arame farpado que mantém as partes juntas conferindo-lhe uma boa resistência à tensão.

Fig. 2: A introduçao do arame farpado e malhas metálicas - Fonte: (Humper e Kiffmeyer, 2004)


Quanto aos vãos, é necessário que se coloquem previamente formas que podem ser retiradas após o terminus da construção das paredes.
As fundações podem ser feitas de várias formas. A título de exemplo, mistura de escombros e pedras ou a utilização de um embasamento de terra misturada com estabilizantes de cimento são soluções comuns. Outros tipos de fundações podem ser adaptadas a localização climática e função do edifício a ser erguido.


Fig. 3: Formas para vãos - Fonte: (Humper e Kiffmeyer, 2004)


- Vantagens em relação a outras técnicas de construção em terra:
Utilizam o mesmo material para erguer toda a casa, desde as paredes ao telhado. Evita-se assim, por exemplo, o uso de madeira ou outros materiais para a estrutura do telhado.
A construção com sacos de areia não requer tanta atenção como por exemplo o adobe, para o qual a mistura tem de ser a certa (idealmente) e que tem de passar por todo um processo de cura por vezes moroso. No caso da técnica aqui apresentada o molde permanente é dado pelos sacos que são cheios de terra, evitando uso de cofragens ou moldes (ao contrário da taipa e adobe), o processo de cura é feito depois de serem aplicados (poupando tempo na construção), a mistura do seu conteúdo nem sempre precisa de respeitar as quantidades aconselhadas como perfeitas ou ideais, já que os sacos compensam a má qualidade da mistura e garantem a resistência pretendida.

Para quem duvida da eficácia desta técnica face às mais diversas agressões, saiba-se que testes rigorosos foram levados a cabo nos EUA. Os resultados provaram que casas feitas com sacos de terra resistem ao fogo, inundações, furacões, térmites e tremores de terra. Obviamente que a técnica terá de ser correctamente executada e, segundo Hunter e Kiffmeyer (ano) a chave deste sucesso reside na conjunção da forma monolítica com o sistema de construção com sacos de terra.

O que é então necessário?
Testar a mistura ideal do solo com o qual se vai efectuar a construção; a mistura variará dependendo da situação e intenção; os sacos devem ser de material respirável, vários formatos são utilizados (ver fig.1), desde sacos individuais a rolos contínuos que se cortam e preparam à medida desejada; o arame farpado, que serve como “velcro” para manter os sacos unidos e conferirem à parede resistência e unidade (fig. 2). Como opção podem ainda utilizar-se outros materiais que ajudam por exemplo na aderência do reboco de terra, tal como as malhas metálicas; as formas para a abertura dos vãos e as ferramentas para a compressão dos sacos (semelhante às usadas para a taipa) (fig.3).

O processo em si é um pouco mais complicado, e como qualquer técnica exige conhecimento e prática. No entanto, a simplicidade que se lhe associa aparenta ser genuína. De aprendizagem rápida e eficiência extraordinária esta é mais uma das utilizações da terra que tem ganho aceitação nos quatro cantos do mundo, cumprindo com nota positiva os testes a que se tem proposto.

Este post foi baseado na informação do livro Earthbag building:The tools tricks and techniques (2004)dos autores Kaki Hunter e Donald Kiffmeyer da editora New Society Publishers. As imagens aqui apresentadas foram extraídas da mesma publicação.
(Consultar página da editora para mais pormenores: http://www.newsociety.com/bookid/3842)

Já como nota pessoal, não vejo a hora de por mim experimentar construir qualquer coisa com esta técnica!

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