Volvidos praticamente três anos desde a minha última passagem pelas portas da universidade em Lisboa e agora já profundamente envolvida nas teias da profissão da arquitectura, não há um só dia em que não pense na essência da profissão que escolhi para a minha vida.
Plenamente consciente da complexidade dos gestos, que são agora parte integrante do meu quotidiano, passei a saber também, e julgo que sem surpresas, que a sina da mente sintonizada para esta coisa do ambiente construído me acompanha para além das 8 horas de trabalho dedicadas a criar e interpretar linhas e formas destinadas a conhecer um futuro material.Não me considero descontente ou desapontada, no entanto, desde cedo comecei a questionar algumas das acções que preenchem o meu dia-a-dia ou, se quisermos tornar a reflexão mais ampla, pode dizer-se que comecei a questionar o papel do arquitecto na sociedade e consequentemente, o meu.
Enquanto estudante vivi na sua plenitude toda a ideia da poética da profissão do arquitecto; o artista, o pensador, o filósofo... Nunca me passou pela mente que a robotização do mundo do trabalho se aplicasse também a ele. Não darei a esta atitude uma conotação negativa dizendo que se tratava de inocência de estudante, pois julgo que foi também essa postura que me levou a estudar apaixonadamente as temáticas, assim como a descobrir meu o caminho para o futuro.
Hoje, já fora do meu país natal, convicta de que a decisão de partir foi definitivamente a mais acertada, trabalho e estudo arduamente para vislumbrar constantemente o meu norte e manter viva a magia da poética forma de estar na arquitectura.
O que me move? Questões que teimam em não conhecer as respostas certas.Como pode a arquitectura representar parte da solução para muitos dos problemas da actualidade, não só relacionados com o "estado de saúde" do nosso planeta, mas também com as carências das populações espalhadas pelos países onde ter um tecto é um privilégio?
Como poderão os arquitectos responder a estes desafios?
Quando se deixará de olhar para a arquitectura como uma forma de exibicionismo barato e como ferramenta para servir os interesses de um grupo de pseudo-iluminados cujo trabalho muito pouco tem contribuído para a harmonia do ambiente construído e sua inserção na sociedade?
Alguém importante disse-me há uns dias que ao registarmos as ideias por escrito estamos a dar repouso à nossa mente, deixando assim espaço para que a reflexão continue o seu percurso e possa mais uma vez ser guardada e registada. É isso que pretendo fazer: arrumar ideias. Torná-las mais claras e trilhar o caminho do presente para o futuro.
Bem-vindos
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